GT 16 – Educação, Cultura e Sociedade
O QUE ENSINAM EXPERIÊNCIAS DE ALGUMAS BRASILEIRAS AFRODESCENDENTES?
Ilanna Brenda Mendes Batista (PIBIC-UFPI)
Tatiana Santos Pacheco (Pedagogia/UFPI)
Prof. Dr° Francis Musa Boakari
Introdução
O presente trabalho trata de relatos de experiências de brasileiras afrodescendentes de sucesso educacional. Queremos apresentar um mundo de superação de dificuldades que algumas mulheres afrodescendentes conseguiram construir no decorrer de suas vidas em tempos recentes. Tentaremos destacar as suas histórias de vivências especialmente quando estudantes, a fim de explicitar as suas características e as estratégias que utilizaram a fim de conseguir terminar de cursos de ensino médio até cursos de pós-graduação; atingir o sucesso educacional.
Este estudo poderá ajudar aos professores no cumprimento das Leis 10.639 de 2003 e 11.645 de 2008, e trazer conhecimentos em termos práticos, para pessoas de movimentos organizados e outras que tiverem a sensibilidade humana, e podem aprender com essas mulheres, muitas lições de vida.
Neste trabalho, sucesso escolar envolve a vida de mulheres afrodescendentes, a obtenção do êxito profissional, mesmo na luta contra os preconceitos. Como explicar esta situação através de suas experiências educacionais foi o objetivo desta pesquisa. Entrevistas informaram que estratégias empregadas e características individuais de um grupo de brasileiras ajudam explicar esta transformação social. Para ajudar a compreender todo esse processo faz-se necessário o diálogo com autores (as) que estudam a temática, em exame, destacando, Caldwell (2001), Moura (1988), Silva (2010), Julio e Strey, (2009) entre outros.Revisão da literaturaSobre a mulher afrodescendente no Brasil o preconceito é ainda maior, quando esta é pobre. A mulher sofre diferenciações de gênero, é tratada diferencialmente da branca, e quando é pobre ela sofre um preconceito triplicado, por ser mulher, negra e pobre.Os dados do (IBGE) Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística mostram que, a maioria da população brasileira classificada como afrodescendentes. Os dados do censo de 2010 mostram 6,9% se declaram pretos e 44,2% pardos. No entanto, a porcentagem dos que se declaram pretos, ainda é inferior aos outros grupos. Mostrando assim, que existe uma resistência em se incluir nessa classificação. Fazendo com que o grupo seja mais desvalorizado. Muita gente da sociedade hoje faz pré-julgamentos sobre pessoas por serem “diferentes”, julgam apenas o que veem, sem ao menos averiguar que competências elas têm. E isso é um grande problema da atualidade, associar o jeito de ser, vestir-se e andar da pessoa afrodescendente como algo pejorativo. Como dizem (JULIO; STREY, 2009, p.2):
Um maneirismo do estilo de caminhar de jovens negros, não precisa estar associado à marginalidade, no sentido de bandidagem ou criminalidade. Há que se fazer as diferenças cabíveis, sem que se construam preconceitos sociais, ao ponto de, ao olharmos um “jeito”, atribuirmos, automaticamente, substantivos qualificadores do mal. [...] nem todo o malandro é negro; nem todo bandido é negro.
A Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Pelas Leis 10.639/2003 e 11.645/2008 esta foi definida para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira e africana e indígena". Torna obrigatório nos estabelecimentos de ensino Fundamental e Médio, públicos e privados, o ensino da História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena. Essa lei será importante para educação brasileira por que vai estabelecer relações étnico-raciais, como também à releitura e revisão do processo de ensino e de aprendizagem à luz da temática, e a reconstrução de valores. Portanto, com sua implementação, ajudará a valorização, o respeito à diversidade e o reconhecimento da sociedade brasileira como pluricultural.
Metodologia
A metodologia empregada na pesquisa configurou-se como um estudo de natureza qualitativa. Na qual esta se conceitua por obter resultados aprofundados da averiguação com certo numero de pessoas. Ou seja, foi entrevistada uma quantidade de pessoas, e através das suas falas é que chegamos a uma conclusão. Escolhemos este tipo de pesquisa por ela ser de caráter exploratório, pois estimula as entrevistadas a pensar e a se expressar livremente sobre o assunto em que esta sendo questionado.
No decorrer da pesquisa foram entrevistadas 17 mulheres afrodescendentes uma quantidade que fosse suficiente para dar maior sustentabilidade aos dados. Elas eram graduandas, pós-graduandas e professoras da (UFPI) Universidade Federal do Piauí, (UESPI) Universidade Estadual do Piauí e (UEMA) Universidade Estadual do Maranhão, além de outras instituições privadas. Algumas entrevistas foram feitas na própria universidade Federal do Piauí, e outras nas residências das entrevistadas. Essas mulheres convidadas a participar de nossa pesquisa, são de idade diversificada, (tendo entre 20 a 60 anos). O tempo das entrevistas não foi estipulado, uma vez que, preferimos deixa-las à vontade para contar sua historia de vida. Essas entrevistas foram feitas no decorrer do primeiro semestre.
Resultados e Discussão
Os resultados das análises das dezessete entrevistas realizadas apontam, em primeiro lugar, para a educação, a persistência delas em alcançar seu sucesso acadêmico e profissional. Na maioria das vezes em busca de mudança de vida, principalmente com relação à condição sócio econômica, pois o problema financeiro tem sido pertinente na vida da maioria das entrevistadas. O apoio de familiares, amigos foi fundamental para que se esforçassem intensamente nos estudos com o objetivo de conseguirem bolsas para terem uma qualidade de ensino em instituições privadas no ensino básico e assim conseguirem aprovação no vestibular nas universidades. Esses dados nos revelaram que as mulheres foram à luta, independente das dificuldades e dos preconceitos.
Elas ultrapassaram os limites impostos e foram mostrando para si mesmas sua condição de colocar suas capacidades em evidência, que foram repercutindo mudanças no comportamento e, consequentemente, já não mais sendo limitadas pelas barreiras encontradas. Do mesmo modo, as afrodescendentes vêm conquistando seu espaço na sociedade e abrindo novas perspectivas para outras gerações futuras.
Conclusão
Com tudo que foi explanado pelas entrevistadas, pode-se definir o resultado do sucesso dessas mulheres, pelo fato delas estarem sempre lutando em busca de seus objetivos. Mesmo com tantos contratempos, conseguiram superar e não desistir. Mostrando que mesmo a sociedade sendo um “obstáculo”, por causar discriminação, elas foram mais além, se superando e procurando obter sucesso por meio da educação. Uma lição que estar explicita no resultado da pesquisa, é a perseverança dessas mulheres, pois, souberam se sair muito bem no meio de tantas barreiras. Aqui implica dizer, que foi por meio dessa perseverança, que elas puderam superar os problemas enfrentados durante sua trajetória educacional.
Nós pesquisadores e educadores temos o dever de formar os nossos educandos, não apenas para passar no vestibular e alcançar êxito educacional, mas formar também para a vida. A educação transforma as pessoas, mas ela precisa também humanizar, para que possamos respeitar os outros como são, independente de raça, gênero, religião, condição social/financeira entre outras categorias marcadoras de identidades.
Referências
BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977.
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002.
JULIO, Ana Luiza dos Santos; STREY, Marlene N. Auto-estima negra: um demarcador da competência racial. In: SEMINÁRIO INTERNACIONAL ENLAÇANDO SEXUALIDADES: Educação, Saúde, Movimentos Sociais, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos. Salvador – BA,2009.
MOURA, Clovis. Sociologia do negro brasileiro. São Paulo, Editora Ática, 1988.
SILVA, Eliane Borges. Tecendo o fio, amparando as arestas: o movimento de mulheres negras e a construção do pensamento negro feminista, 2010.