IDENTIDADES, TERRITÓRIOS E MOVIMENTOS SOCIAIS
Francis Musa Boakari (UFPI)*
Raimunda Nonata da Silva Machado (UFPI)**
Antonia Regina dos Santos Abreu (UFPI)**
Raimunda Ferreira Gomes (UFPI) **
RESUMO
As relações sociais constituem-se de diversas maneiras e não se pode pensar em falar das mesmas sem citar questões relacionadas às identidades, aos territórios e aos movimentos sociais. Falar nestas categorias é humanizar as realidades contemporâneas, em especial, as relações dinâmicas e desigualdades persistentes. O presente artigo discute os processos de construção de identidade afrodescendente na escola; múltiplos territórios de luta social e de organização de movimentos sociais, no âmbito da diversidade cultural, visando provocar, nos participantes, curiosidades e a vontade de buscar conhecimentos na área da educação e diversidade cultural, visto que não se pode mais, continuar o processo educacional desvinculando-o dos territórios e temáticas em que está inserido. É uma oportunidade para se pensar, também, a valorização dos movimentos sociais que estão acontecendo em diversos espaços formativos. Desse modo, nos ancoramos em alguns autores/as para nos dar suporte teórico como: Bhabha(1998), Cavalleiro (2008), Freire (1998), Gohn (2008), Gomes (2010), Hall (2006), Santos (2010), dentre outros, entendendo, com estas reflexões, que as discussões precisam continuar, pois a construção e o processo de formação da pessoa estão em constantes modificações e conflitos sociais que poderiam levar ao diálogo e à humanização.
Palavras-chave: Identidades. Territórios. Movimentos Sociais
Introdução
A discussão sobre “Identidades, Territórios e Movimentos sociais” para III Semana de História e IV Simpósio de História girou em torno das nossas inquietações atuais de pesquisa, buscando compartilhar e articular questões relacionadas a processos de construção de identidade brasileira afrodescendente; múltiplos territórios de luta social e de organização de movimentos sociais, no âmbito das diversidades culturais.
Com esta perspectiva, inicialmente, trataremos da identidade no espaço escolar no sentido de compreender como a escola pode contribuir para o processo de aprendizagem da criança afrodescendente, a partir do momento em que organiza um ensino que promova discussões sobre as diferenças, no sentido de respeitá-las, ao mesmo tempo em que são valorizadas.
Em seguida, mostraremos que identidades e movimentos sociais podem ser constituídos numa multiplicidade de territórios. Nesse sentido, focalizaremos o espaço virtual como produto das experiências sociais que fazem transitar, assim como na escola, ideias e atitudes que afirmam e conflituam as diferenças culturais.
Desse modo, buscamos refletir sobre as identidades que são construídas no espaço escolar, sabendo que, essas também são produtos das relações construídas nos territórios em que as mesmas convivem, assim como os diferentes movimentos sociais que influenciam nesse processo.
Identidade(s) e o espaço escolar
A escola hoje ocupa um espaço na sociedade, em que apresenta-se como uma oportunidade de transformação social, pois desde pequenas as crianças são estimuladas a estar nesse ambiente onde todo o aprendizado deveria ser repassado para ela. No entanto, percebemos que esse espaço acaba por engessar determinada produção de conhecimento. Conhecimento este que incentiva uma determinada identidade enquanto desestimula construção de tantas outras para melhor captar-expressar as individualidades presentes nela.
Nesse sentido, seria interessante que as escolas estivessem mais abertas ao debate de quaisquer questões trazidas pelos sujeitos que as procuram como espaço de formação, sem limitar-se apenas aos mesmos conteúdos, que já vem determinados para serem trabalhados, a uma única metodologia, a uma forma engessada de propor o ensino e aprendizagem. O diferencial seria dar oportunidades de novas discussões no ambiente escolar, em que fosse possível discutir questões sobre os fatos reais que afetam as pessoas diretamente, todos os dias, como as diversidades culturais, racismo, preconceitos, questões de gênero, discriminações e muitas outras formas de desumanização que circulam o mundo atual.
E esse espaço social, por seu próprio formato, deve proporcionar a construção da identidade da criança, do aluno, mas para tal, é preciso que todos sintam-se incluídos enquanto possam igualmente participar na escola, pois “ser diverso não é um problema. Afirmar positivamente uma identidade racial também não. Ser diverso e portador de uma identidade racial são aspectos constituintes da nossa formação humana e também uma construção social e histórica” (GOMES, 2001, p. 87). Tudo indica que o problema são as atitudes e práticas que outras pessoas usam como respostas a tal situação.
E as instituições escolares nas pessoas que ali trabalham e através dos outros agentes sociais que as viabilizam precisam perceber a riqueza de valorizar essas questões no seu processo diário de construção de saberes e aprendizagens.
Para além de considerações puramente teóricas, nosso intuito é o de ajudar a subsidiar o pensamento e a elaboração de medidas concretas, em particular por meio do processo educativo, visando apoiar, estimular a auto-estima e afirmar de forma positiva a identidade do afrodescendente, fator crucial à sua capacitação para a agência humana, individual e coletiva. Favorecer essa agência é uma forma de contribuir para a ampliação de espaços de efetivo exercício da cidadania (NASCIMENTO, 2001, p.115).
A partir do momento em que é possível trazer isso para realidade escolar, no sentido de respeitar as características físicas ou sociais das pessoas, é possível valorizar a auto-estima. Quando isso não acontece, fica claro que “a educação formal desagrega e dificulta a construção de um sentimento de identificação, ao criar um sentido de exclusão para o aluno, que não consegue ver qualquer relação entre os conteúdos ensinados e sua própria experiência durante o desenvolvimento do currículo [...]” (MOURA, 2005, p.72). Portanto, a escola, ao invés de contribuir para a formação dessa auto-estima, acaba por repetir estereótipos de maneira comprometedora e negativa contra os interesses dos já marginalizados.
E especialmente numa sociedade como a nossa, na qual predomina uma visão negativamente preconceituosa, construída historicamente a respeito do negro (afrodescendente), em contrapartida, a identificação positiva do branco (eurodescendente), em que prevalece seu papel de dominador nas relações instituídas socialmente, Cavalleiro (2008, p. 19) afirma que a identidade estruturada durante o processo de socialização terá por base a precariedade de modelos satisfatórios e a abundância de estereótipos negativos sobre os afrodescendentes, continuamente em favor do eurodescendente, suas práticas e seus valores.
A recuperação dessa identidade, entre outras também essenciais e relevantes, começa pela aceitação dos atributos físicos de sua negritude antes de atingir os atributos culturais, mentais, intelectuais, morais e psicológicos, pois o corpo constitui a sede material de todos os aspectos da identidade (MUNANGA, 2009, p.19). Nesse sentido, é preciso re-apreender a olhar a si mesmo, para si próprio, antes de olhar o outro, é preciso reconduzir esse processo de aprendizagem de modo permanente.
Uma possibilidade de repensar o processo de aprendizagem é considerar os diferentes elementos culturais existentes nos diferentes territórios de aprendizagem. A escola pode estar engessada com práticas que violam os direitos básicos das crianças porque dificultam o desenvolvimento de suas capacidades de ser, pensar, criar e sonhar. Entretanto, poderia servir de ponto de partida para construção de outros territórios e não-modelos para novas aprendizagens; novas maneiras de viver o ensino-aprendizagem. A seguir, discutiremos um território de aprendizagem que vem se ampliando no contexto de desenvolvimento das tecnologias da informação e comunicação.
Territorialização de ambientes virtuais de aprendizagem
A luta histórica pela igualdade de direitos sociais se justifica pela existência de diferenças culturais naturalizadas, mediante “a classificação do planeta no imaginário colonial/moderno praticada pela colonialidade do poder, uma energia e um maquinário que transformam diferenças em valores” (MIGNOLO, 2003, p. 37), definindo o legítimo e o ilegítimo no mundo contemporâneo energizado pelo capital, ainda mais o econômico.
Uma das formas possíveis de construção do “imaginário colonial/moderno” sustenta-se na tentativa de demarcação e polarização de territórios, como espaço delimitado por uma fronteira imaginária (O Tratado de Tordesilhas, por exemplo), propriedade e domínio, que fortalece e amplia a formação dos estados modernos, tornando-os símbolos de soberania nacional.
Mas, ao mesmo tempo em que o imaginário colonial/moderno cria fronteiras, esta é desestabilizada pelo “entrelaçamento e fusão, na fornalha da sociedade colonial, de diferentes elementos culturais africanos, asiáticos e europeus” (HALL, 2006, P. 31), já que os sujeitos territorializam os espaços em que atuam, dando-lhes significados diferentes, construindo outros elementos e muitos territórios híbridos.
Isto nos instiga a pensar numa multiplicidade de territórios e suas muitas dimensões: político, cultural, econômico, natural, e vário outros. Contudo, destacamos um território particular na dimensão epistemológica, para refletir sobre esse “imaginário colonial/moderno”, o qual detém o monopólio da “zona epistemológica”, produzindo distinções hierárquicas entre culturas e aquele construído na razão subalterna, que lutam para dar visibilidade aos conhecimentos e experiências desperdiçados na “zona colonial”. Uma lógica epistemológica binária que Boaventura Santos (2010) chama, respectivamente, de pensamento abissal e pós-abissal. Como este pensamento pode transitar num mesmo território?
Tomamos para reflexão o Ambiente Virtual de Aprendizagem Moodle (AVA Moodle), no qual acontece o Curso de Especialização em Políticas Públicas em Gênero e Raça como parte dos processos de formação na área da diversidade no âmbito do Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB). Os sujeitos (alunos/as, professores/as e tutores/as), deste curso, territorializam este ambiente com suas ações, fazendo transitar conhecimentos sobre questões de gênero e raça para o desenvolvimento de planejamento e execução de ações nestas temáticas da diversidade.
A territorialização do AVA Moodle é produto das experiências sociais que se configuram, a partir da contestação do pensamento abissal definido por uma epistemologia geral que pretende afirmar-se como universal e da tentativa de elaboração do reconhecimento de outras epistemologias sobre gênero e raça que possibilitam dar visibilidade a outras marcações identitárias. Isto envolve “processos que são produzidos na articulação de diferenças culturais” (BHABHA, 1998, P. 20)
Se há necessidade de contestação e ruptura com o pensamento abissal é porque ele continua presente nos modos de ser e fazer dos sujeitos. E assim, o AVA Moodle vai se constituindo como território virtual, no cruzamento do pensamento abissal e pós-abissal, pois, na medida em que é praticado e vivenciado pelos sujeitos; expande as distâncias geográficas, temporais, sociais e culturais; é domínio e propriedade institucional; significa e ressignifica experiências sociais.
Como uma rede relacional, o território se configura por meio de muitas trajetórias em tensão e conflito com as forças abissais e pós-abissais. Estes pensamentos se entrelaçam no território virtual Moodle, mediante interação, diálogo e, o resultado disso, poderá contribuir para mostrar que estamos envolvidos/as por uma “ecologia de saberes”, como define Boaventura Santos (2010) ou, por um pensamento liminar como aponta Walter Mignolo (1998), os quais criam terrenos para partilhar lutas contra todo tipo de exclusão e discriminações sociais pela interseccionalidade dos conhecimentos de gênero e raça.
Assim, além de outros espaços territorializados por causa de outras epistemologias, existem ao mesmo tempo, Ambientes Virtuais de Aprendizagem, como o Moodle, que poderão ser territórios construídos como instrumento (meio e ambiente) cultural para fortalecer a luta política e histórica pela igualdade de direitos sociais, e, com isso, poderá ser constituído também, como espaço de atuação política dos movimentos sociais. Num mundo em fluxo permanente, como diria o Heráclito, cada vez há mais possibilidades-desafios. Neste sentido apresentamos algumas reflexões sobre os grupos organizados, os movimentos sociais em movimentos de construção e reconstruções.
Movimentos sociais
Antes de propriamente falar sobre os movimentos sociais e suas diferentes frentes de ações, suas conquistas, é necessário fazer alguns questionamentos. Que modelo de sociedade temos? Como foi estruturado? Que ideologias o sustentaram e o sustentam? Qual concepção de desenvolvimento desse modelo de sociedade? Como se caracterizam as relações sociais, éticas e raciais?
A organização da sociedade em movimentos sociais se deve a sua estrutura de poder, construída a partir das relações sociopolíticas entre as nações, povos e grupos sociais, que criam um modelo de sociedade, cujos interesses de uma ou outra categoria não são atendidos. Por isso, justifica-se a emergência, pelo mundo inteiro, no decorrer da história da humanidade, diferentes movimentos sociais e que se vão reconfigurando de acordo com as relações sociais, políticas, econômicas, religiosas, raciais, étnicas, de gênero, entre outras. Autores como Boaventura Santos, Anibal Quijano, Milton Santos, Maria da Glória Gohn e outros trazem importantes reflexões da forma como se organizaram mundialmente as relações de poder entre as nações e continentes, entre povos, e membros de diferentes grupos.
Em pinceladas abrangentes, lembramos que segundo Santos (2010), o mundo ocidental, que operando através de dois instrumentos fortes de dominação – conhecimento e do direito – institui-se como sociedade civil, legal, com poderes jurídicos para dividir o mundo em zonas metropolitanas e zonas coloniais, atribuindo-se o direito de colonizar as nações, principalmente, do Sul Global. Utilizando-se do conceito do vazio jurídico e com o apoio do pensamento cristão, invadiu e ocupou os territórios de povos nativos da África, Ásia e Américas. No campo do conhecimento, cria a ciência moderna, impondo uma dominação epistemológica, suprimindo as experiências de mundo desses povos, destruindo suas identidades, o que gerou, segundo o autor citado, “uma injustiça social global”.
Para Milton Santos (2006), temos um modelo de sociedade predatório, baseado no capitalismo “selvagem”, onde as ações predatórias são justificadas ao se dar privilégios para uma minoria dominante, gerando, de um lado, enorme quantidade de bens; de outro, um quadro de desigualdades sociais estarrecedor. Guiado pela lógica do capital, esse modelo predatório de sociedade, cria mecanismos de se alastrar e se manter, como as fortes interconexôes, globalização "de-cima-para-baixo" (hegemônicas), padronização das culturas, dos conhecimentos, dos desejos e até de sonhos, tendo como referência o mundo europeu.
Em reação a essas relações de dominação, surgem os movimentos sociais, que na definição de Gohn
são ações coletivas de caráter sociopolítico, construídas por atores sociais pertencentes a diferentes classes e camadas sociais. Eles politizam suas demandas e criam um campo político de força social na sociedade civil. Suas ações estruturam-se a partir de repertórios criados sobre temas e problemas em situações de: conflitos, litígios e disputas. As ações desenvolvem um processo social e político-cultural que cria uma identidade coletiva ao movimento, a partir de interesses em comum. (GOHN,1995, p.44)
E na conceituação de Santos (2010), são globalizações "de-baixo-para-cima" (contra-hegêmonicas), ou seja, movimentos sociais organizados, lutas e eventos, capazes de se articularem mundial e globalmente e provocarem profundas transformações sociais. O Fórum Social Mundial é um forte exemplo disso, um evento organizado por movimentos sociais de diversos continentes, para a reflexão e organização de todos os que se contrapõem à globalização neoliberal e estão construindo alternativas para favorecer o desenvolvimento humano e buscar a superação da dominação dos mercados em cada país e nas relações internacionais.
Não é objetivo nesta fala, não é detalhar a trajetória dos movimentos sociais, nem classificá-los, mas provocar uma reflexão sobre as relações de poder estabelecidas pelo pensamento ocidental, baseado na dominação e na exploração; os impactos do modelo de sociedade predatório, fundado no capitalismo e na globalização hegemônica; e sobre as reações dos grupos sociais, que via articulações entre si (globalizações contra-hegemônicas) desestabilizam tal modelo, criando outras alternativas de viver a vida.
Os movimentos sociais são dinâmicos e têm uma história tensa de muitos conflitos, não sendo possível uma precisa categorização, por isso, para efeito didático, Gohan (2008) subdivide o universo dos movimentos sociais no contexto atual em três frentes de ações: 1ª - movimentos identitários que lutam por direitos sociais, econômicos, políticos, e mais recentemente, culturais; 2ª - movimentos de luta por melhores condições de vida e de trabalho, no meio urbano e no rural, que demandam acesso e condições para terra, moradia, alimentação, educação, saúde, transportes, lazer, emprego, salário; 3ª - movimentos globais ou globalizantes, como o Fórum Social, que atuam em redes sociopolíticas e culturais,via fóruns, plenárias, colegiados, conselhos, responsáveis pela articulação e globalização de muitos movimentos sociais locais, regionais, nacionais ou transnacionais,constituindo-se a grande novidade deste novo milênio.
Diante dos desafios frente à força da globalização hegemônica e do capital, surgem posições fatalistas e conformistas de que só existe o modelo capitalista e que este é inabalável. Mas a história dos movimentos sociais tem mostrado as mudanças ocorridas. Santos (2010); Freire (1984); Mészáros (2005); Gohn (2011); Gomes (2010) acreditam no poder do uso contra-hegemônico da ciência, na articulação entre educação e movimentos sociais como estratégias de diminuição das desigualdades sociais.
Gohn (2011), concebendo os movimentos sociais como fontes geradoras de saberes, reconhece a relação movimento social e a contribuição desses na formulação de políticas educacionais de inclusão, destacando o movimento negro, que na visão de Gomes(2010), provocou a inserção dos intelectuais afrodescendentes no espaço acadêmico como sujeito da produção do conhecimento cientifico.
E Santos (2010) enfatiza essa relação quando afirma que “não existe justiça social global sem justiça cognitiva global”. E para pensar nesta possibilidade será preciso trabalhar com epistemologias diversas, modos diferentes de produzir e tratar os conhecimentos humanos como herança global de toda humanidade sem desmerecer as identidades e individualidades em suas realidades territoriais.
À guiza de uma conclusão
As preocupações que nos impulsionam a reflexão sobre “Identidades, Territórios e Movimentos Sociais” continuam interrogando sobre: quais identidades estão sendo construídas ou afirmadas como legítimas nos mais diversos territórios sociais? Por que determinadas identidades e não outras? Existem movimentos que criam terrenos de contestação e denúncia das formas de exclusão e discriminações? Não precisamos sublinhar a premissa de que nem as pós-modernidades podem anular as relevantes contribuições que estas categorias em pauta continuam trazendo para a vida humana em sociedade.
As inquietações acima implicam num diálogo com as formas pelas quais os sujeitos se relacionam e se posicionam na sociedade, positivando algumas ações e negando outras. Nisso reside uma busca constante pela valorização dos saberes e experiências sem distinção hierárquica ou fronteiras culturais.
Significa que os territórios de aprendizagens, seja ele virtual ou material, são espaços de conflito, diálogo e tensões diversas, nos quais estão presentes as relações de poder. Importa garimpar, nesses territórios, movimentos pós-abissais que se cruzam com o pensamento abissal, gerando possibilidades de ressignificação das experiências sociais com a afirmação e reconhecimento das identidades “invisíveis”[1]. Trata-se da utilização política dos territórios de aprendizagens na luta pela igualdade de direitos sociais.
Os movimentos sociais, neste sentido, desempenham relevante papel visto que, nas suas atuações individuais ou quando articulados entre si, debatem as questões sociais, contestam a dominação, constroem proposições, provocam mudanças, descentralizam o poder, constituindo-se ricos e férteis espaços de produção de conhecimentos e propulsores das transformações sociais. Os movimentos sociais se situam, pois, como instrumentos necessários na reconfiguração permanentes dos territórios e das identidades.
Referências
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FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984
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________. Maria da Glória. Movimentos e lutas sociais na história do Brasil. São Paulo: Loyola, 1995)
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MÉSZÁROS, István. A educação para além do capital. São Paulo: Boitempo, 2005
MIGNOLO, Walter D. Histórias locais / Projetos globais: Colonialidade, saberes subalternos e pensamento liminar. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003.
MOURA, Glória. O direito à diferença. In: MUNANGA, Kabengele. Superando o racismo na escola. 2. ed. rev. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2005.
MUNANGA, Kabengele. Negritude: usos e sentidos. 3. ed. rev. e ampl. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2009. (Coleção Cultura Negra e Identidades).
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SANTOS, Boaventura de Sousa. Para além do pensamento abissal: das linhas globais a uma ecologia de saberes. In: SANTOS, Boaventura de Sousa; MENESES, Maria Paula. (Orgs.). Epistemologias do Sul. São Paulo: Cortez, 2010
SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. 14ª. Edição. Rio de Janeiro: Record, 2007.
* Professor Pós-Doutor do Centro de Ciência da Educação, do Programa de Pós-Graduação em Educação – PPGEd (Mestrado e Doutorado) e coordenador do Grupo de Estudos e Pesquisa sobre Gênero, Educação e Afrodescendência – GEAfro/Roda Griô, ambos da Universidade Federal do Piauí (UFPI).
** Discentes do Programa de Pós-Graduação em Educação – PPGEd (Mestrado e Doutorado) da Universidade Federal do Piauí (UFPI) e membros do Grupo de Estudos e Pesquisa sobre Gênero, Educação e Afrodescendência – GEAfro/Roda Griô.
[1] Para Boaventura Santos (2010), os invisíveis fundamentam àqueles que são visíveis. Os invisíveis desaparecem enquanto realidade, tornando-se inexistente, são produzidos como inexistente. São grupos cujas aspirações são negadas e projetos abortados.