GT 17 - Educação e Novas Tecnologias
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA DAS “EMERGÊNCIAS”?
Raimunda Nonata da Silva Machado (UFPI)
Francis Musa Boakari (UFPI)
Resumo:
A Educação a Distancia das Emergências constitui um exercício de reflexão acerca das preocupações que nos inquietam na pesquisa atual. Analisa como o espaço virtual vem impulsionando processos de formação na área da diversidade e as contribuições que a educação a distância pode oferecer para o desenvolvimento dessas políticas de conhecimento, considerando os avanços no campo das tecnologias da informação e comunicação. Aborda o desenvolvimento da educação a distância nas universidades brasileiras no âmbito do Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB) e do Programa Rede de Educação para a Diversidade do Ministério da Educação (MEC), bem como, a oferta do Curso de Especialização em Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça (GPP-GeR), mais especificamente, a partir das experiências de uma integrante da equipe da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Pontua algumas das possibilidades básicas do sistema de organização de aprendizagem virtual Moodle, que colaboram para o fortalecimento do uso da modalidade de educação a distância na contemporaneidade. Para tanto, mantém o diálogo com os documentos oficiais (planejamento e legislação) e alguns estudiosos da temática em questão como: Aboud (2006), Castells (2002), Dias; Leite (2010), Heilborn (2010), Louro (2000), Moore; Kearsley (2010), Silva (2010), Silva (2010a) e Silva (2011). Adota uma abordagem qualitativa sociocultural e sinaliza para as tentativas de incorporação de temas da área da diversidade nas práticas sociais, por meio da educação a distancia, ao mesmo tempo em que sugere perspectivas de práticas docentes com autonomia para o consumo e produção de tecnologias da informação e comunicação como ferramentas que colaboram na construção dos conhecimentos da diversidade. Questionamentos que problematizam estas preocupações fazem parte destas reflexões críticas.
Palavras-chave: Educação a distância. Diversidades. Gestão em Políticas Públicas.
INTRODUÇÃO
A criação de um cenário tecnológico tem possibilitado transformações sociais que, segundo Castells (2002), são práticas que produzem uma nova sociedade: a sociedade em rede, com uma nova estrutura social dominante; uma economia informacional global e uma nova cultura, a cultura da virtualidade real, as quais, também produzem outras formas de inclusão e exclusão social.
No bojo dessas transformações, encontram-se as instituições educacionais enfrentando o desafio de propiciar a democratização do acesso aos meios eletrônicos; estimular o manuseio desses equipamentos e formar alunos/as e professores/as para sua utilização nas mediações pedagógicas. Estão em construção alternativas de interação para ensinar e aprender!
Explorar a complexidade que existe no desenvolvimento de práticas educativas com o uso de tecnologias da informação e comunicação nos instiga a refletir sobre a utilização da modalidade de educação a distância (EaD) no contexto da “sociedade informacional”. (CASTELLS, 2002)
Dentro dos limites deste estudo, não desejamos aprofundar se as tecnologias da informação e comunicação estão incorporadas na prática docente, mas sim, seus impactos na gestão do conhecimento, por meio da educação a distância.
Com esse propósito, discutiremos como o espaço virtual vem impulsionando processos de formação na área da diversidade no âmbito do Sistema Universidade Aberta do Brasil e as contribuições que a educação a distância pode oferecer para o desenvolvimento de políticas de conhecimento que atendem a área da diversidade, mediante diálogo com documentos oficiais (planejamento e legislação) e alguns estudiosos da temática em questão, dentre os quais, destacamos: Aboud (2006), Castells (2002), Dias; Leite (2010), Heilborn (2010), Louro (2000), Moore; Kearsley (2010), Silva (2010), Silva (2010a) e Silva (2011).
Portanto, no relato que segue, abordaremos o desenvolvimento da educação a distância nas universidades brasileiras no âmbito do Sistema Universidade Aberta (UAB), bem como, a oferta do Curso de Especialização em Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça (GPP-GeR) na Universidade Federal do Maranhão, utilizando-se de algumas das possibilidades básicas do sistema de organização de aprendizagem virtual, que colaboram para o fortalecimento do uso da modalidade de educação a distância na contemporaneidade. Fatores geográficos e socioculturais locais tão importantes como deve ser esperado, são tratados somente de modo implícito.
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NAS UNIVERSIDADES BRASILEIRAS
Sabemos que a prática de educação a distância é reconhecida, desde meados do século XIX, com o ensino por correspondência, sendo que sua expansão tem sido impulsionada, na contemporaneidade, pelos avanços das tecnologias da informação e comunicação. Nesse sentido, Moore; Kearsley (2010) apontam cinco gerações de educação a distância para compreendermos seu percurso histórico. Vejamos:
1.ª Geração: Ensino por correspondência: instrução individualizada;
2.ª Geração: Transmissão por rádio e televisão: comunicação unidirecional com recursos de imagem e áudio;
3.ª Geração: Universidades Abertas: Abordagem sistêmica das universidades abertas - transmissão com orientações face a face,
4.ª Geração: Teleconferência: interação em tempo real
5.ª Geração: Internet/web: ambiente virtual apóia os princípios construcionistas, o papel dos/as mediadoras/es, visando aprendizagens colaborativas e maior integração das mídias.
As potencialidades tecnológicas de cada geração vão ampliando, historicamente, as possibilidades de interação e interatividade[1] que favorecem aprendizagens individuais e coletivas. Na EaD “os sistemas de ensino e aprendizagem são transformados e reorganizados para suprir as necessidades instrucionais e de conhecimento da sociedade” (ABOUD, 2010, p.18).
É o que acontece com a implementação do projeto de criação do Sistema de Universidade Aberta do Brasil (UAB)[2] em 2005. Trata-se de um sistema integrado por universidades públicas que oferece cursos de nível superior para camadas da população que têm dificuldade de acesso à formação universitária, por meio da metodologia da educação a distância.
Com as possibilidades do sistema UAB tornou-se possível desenvolver, ainda, o Programa Rede de Educação para a Diversidade do Ministério da Educação para realizar diversos cursos com a finalidade de disseminar o desenvolvimento de metodologias educacionais com inserção de temas das áreas da diversidade na formação de educadores e gestores públicos, tais como: educação do campo, indígena, ambiental, integral, direitos humanos, relações étnico-raciais, gênero e orientação sexual, gênero e diversidade na escola, saúde na escola, culturas e história dos povos indígenas, Estatuto da Criança e do Adolescente, produção de material didático para a diversidade, e outros (BRASIL, 2012). No quadro que segue, destacamos as instituições que tiveram, por exemplo, projetos aprovados para implementação do Curso de Especialização em Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça (GPP-GeR).
Fonte: http://sisuab.capes.gov.br/sisuab/PesquisasUAB. Acesso em: 09 out. 2012.
As primeiras aproximações com esta realidade instigam-nos com diversos questionamentos: Quais as preocupações dos/as mediadoras/es para a realização deste curso? O que leva a maior incidência da região nordeste na oferta do Curso GPP-GeR? Como o Programa Rede de Educação para a Diversidade está sendo efetivado nas instituições integrantes do sistema UAB que tiveram seus projetos de desenvolvimento desses cursos aprovados?
Não intencionamos dar respostas acerca desses questionamentos e outras problematizações que podem, ainda, surgir na discussão das possibilidades da educação a distância, em explorar conhecimentos da área da diversidade na contemporaneidade. Todavia, podemos apontar situações que nos incomodam nessa realidade e, por isso, nos fazem pensar e construir uma representação possível, no diálogo entre nossa experiência como professora neste curso, os documentos oficiais e autores/as que analisam a dinâmica da educação a distância.
Logo, é nesse contexto de implementação do Sistema UAB e do Programa Rede de Educação para a Diversidade que iremos refletir, a seguir, sobre as possibilidades da educação a distância na formação continuada de profissionais da educação e gestores públicos para o tratamento das temáticas da diversidade.
O AMBIENTE VIRTUAL MOODLE REFLETINDO DIVERSIDADE
A Universidade Federal do Maranhão (UFMA) foi credenciada no sistema UAB, em março de 2006, para ofertar cursos de extensão, aperfeiçoamento, graduação e pós-graduação a distância, através do Núcleo de Educação a Distância – NEaD. Com isso, ampliou as formações continuada e inicial de “500 (quinhentos) alunos matriculados no ano de 2007 para 3.000 (três mil) alunos em 2008” (TEIXEIRA, 2008).
Nessa direção, a UFMA, contemplou diversos cursos da Rede de Educação para a Diversidade[3] em parceria com Ministério da Educação (MEC), por meio da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECADI-MEC). São alguns deles:
Curso de Extensão e Aperfeiçoamento:
Educação do Campo – 210h
Educação Integral e Integrada – 180h
Mediadores de Leitura e Educação em Direitos Humanos – 120h
Educação em Direitos Humanos – 200h
Gênero e Diversidade na Escola (GDE) – 200h
Curso de Especialização:
Formação em Educação do Campo – 390h
Educação em Direitos Humanos – 380h
Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça (GPP-GeR) – 390h.
Por tratar de temas de nosso interesse, como as questões de gênero e raça, focalizaremos, neste estudo, o Curso GPP-GeR, problematizando sobre como o espaço virtual vem impulsionando processos de formação na área da diversidade no âmbito do Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB), bem como as contribuições que a educação a distância pode oferecer para o desenvolvimento dessas políticas de conhecimento?
Esta realidade social nos instiga à reflexão sobre um projeto comunicacional local criado pela convergência das tecnologias das telecomunicações e a capacidade de conexões eletrônicas dos computadores. Trata-se da idealização de outro espaço social de ensino e aprendizagem, o espaço da virtualidade, no qual a distância não é apenas um aspecto geográfico, mas também pedagógico (MOORE, KEARSLEY, 2010). Os recursos tecnológicos entram neste cenário como instrumentos que promovem ou criam barreiras no tocante às estratégias e consequentemente, os resultados obtidos.
Este espaço foi construído com o auxílio de ferramentas que possibilitam a organização, o gerenciamento e as várias formas de interações entre: aluno/conteúdo, aluno/mediador e aluno/alunos, mediante a utilização de recursos da internet para comunicação síncrona (contato simultâneo ou em tempo real) como o chat (sala de bate-papo) e comunicação assíncrona (contato por meio da disponibilização e troca de mensagens em tempos variados), tais como: fórum de discussão, correio eletrônico, portfólio, dentre outros.
Estas ferramentas podem ser organizadas, por meio da criação de contas de usuários e senhas em sistemas fechados, tais como: Aulanet, Claroline, eFront, e-Proinfo, Teleduc, Moodle[4], dentre outros. De acordo com Silva (2011, p. 18), o sistema Moodle é o que possui maior aceitação no Brasil e no mundo, já que “desde sua criação, em 2001, já foram identificadas milhares de instituições em mais de 200 países que o utilizam para atender a diferentes tipos de público e necessidades”.
Na UFMA, o curso GPP-GeR é desenvolvido no Ambiente Virtual de Aprendizagem Moodle (AVA Moodle), disponibilizado no sitio: http://www.avapg.ufma.br para “formar profissionais aptos/as a atuar no processo de elaboração, monitoramento e avaliação de programas e ações que possam assegurar a transversalidade e a intersetorialidade de gênero e raça em todas as políticas públicas” (HEILBORN, 2010, p. 12).
Conforme Silva; Nunes (2009), no Curso GPP-GeR estão matriculados: servidores/as das três esferas da Administração Pública; integrantes dos Conselhos de Direitos da Mulher; dos Conselhos de Educação; dirigentes de organismos não-governamentais ligados à temática de gênero e da igualdade étnico-racial e gestores/as das áreas de educação, saúde, trabalho, segurança e planejamento que possuam diploma de nível superior, em qualquer área do conhecimento e que desejem aprofundar os fundamentos teóricos e práticos relativos a Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça. O objetivo principal é de cunho teórico-prático – apoiar participantes na aquisição de conhecimentos básicos sobre questões de gênero e raça a fim de retroalimentar o seu envolvimento no planejamento e na execução de ações governamentais nestas áreas.
Estes participantes estão distribuídos em 6 (seis) pólos da UAB do Estado do Maranhão. São eles: Caxias, Codó, Santa Inês, Humberto de Campos, Grajaú e Imperatriz, contando com uma equipe técnico-pedagógica formada por: 6 tutores/as, 4 professores/as especialistas, 1 coordenadora de tutoria, 1 coordenadora geral e um técnico administrador do ambiente Moodle.
O AVA Moodle foi desenvolvido por Martin Dougiamas na perspectiva socioconstrutivista, com o desejo de propiciar a “construção/reconstrução do conhecimento, a autoria, a produção de conhecimento em colaboração com os pares e a aprendizagem significativa do aluno” (SILVA, 2011, p.18). O uso desta plataforma para a realização do Curso GPP-GeR permite, aos sujeitos envolvidos, usufruírem das dimensões tecnológicas, pedagógicas e dialógicas que as tecnologias da informação e comunicação podem disponibilizar numa sala de aula on-line. Para Silva (2010, p. 219):
Uma sala de aula online não é apenas o conjunto de ferramentas infotécnicas mas também um ambiente que se auto-organiza nas relações estabelecidas pelos sujeitos com os objetos técnicos que interagem e afetam-se mutuamente ao longo do processo de construção do conhecimento. Neste sentido, é preciso que o desenho didático contemple uma intencionalidade pedagógica que garanta a educação online como obra aberta, plástica, fluida, hipertextual e interativa. Caso contrário, repetirá práticas próprias da Pedagogia da transmissão.
A sala de aula on-line do GPP-GeR está organizada no formato de tópicos que indica o modo como os conteúdos são disponibilizados no ambiente. É a estruturação de curso mais utilizada e que atende ao agrupamento de assuntos por módulos. Desse modo, os conteúdos do Curso GPP-GeR estão disponíveis em ferramentas de recursos (que funcionam como espaços que armazenam materiais de estudo) e atividades (espaços de interação e interatividade que armazenam produções individuais e coletivas). Os objetivos educacionais, as questões tratadas e a carga horária curricular do curso são:
Módulo 1 – Políticas públicas e promoção da igualdade – 45 horas
Refletir sobre a essencialidade das políticas públicas na superação das desigualdades de gênero e raça, trazendo um referencial básico sobre políticas públicas e promoção da igualdade.
Unidade 1. Objetivo da política pública
Unidade 2. Diversidade x desigualdade
Unidade 3. Universalidade x ações afirmativas
Módulo 2 – Políticas públicas, sexo e gênero – 60 horas
Analisar as políticas públicas traçadas para atender as exigências quanto a identidade de gênero e a interseção com a identidade étnico-racial.
Unidade 1. Conceitos: sexo, gênero e sexualidade
Unidade 2. Gênero e hierarquia social
Unidade 3. Desigualdades de Gênero
Unidade 4. Movimentos de mulheres
Módulo 3 – Políticas públicas, raça e etnia – 60 horas
Fazer uma retrospectiva histórica da construção do conceito de raça e do protagonismo dos movimentos negros e, especialmente de mulheres negras, na produção de diagnósticos sobre as desigualdades raciais e na proposição de políticas de promoção da equidade.
Unidade 1. Conceitos: raça, etnia e racismo
Unidade 2. Pensamento Social Brasileiro e Raça
Unidade 3. Desigualdades Raciais
Unidade 4. Movimento negro e de mulheres negras
Módulo 4 – Estado e sociedade – 45 horas
Discutir sobre a atuação do Estado e da Sociedade Civil no processo de implementação de políticas públicas com recorte de gênero e raça.
Unidade 1. Estado, sociedade e cidadania
Unidade 2. Direito Público
Unidade 3. Políticas públicas, ações afirmativas e raça
Unidade 4. Políticas públicas, ações afirmativas e gênero
Módulo 5 – Gestão de políticas públicas – 60 horas
Refletir sobre os desafios na elaboração de políticas públicas com recorte de gênero e raça, uma vez que esta perspectiva acarreta, necessariamente, a promoção social da igualdade e o combate às estruturas que reproduzem as relações de poder entre homens e mulheres e a discriminação étnico-racial.
Unidade 1. Conceitos de interseccionalidade, intersetorialidade e transversalidade
Unidade 2. Equidade de gênero e raça na cultura organizacional
Unidade 3. Planejamento governamental e orçamento público com enfoque de gênero e raça
Unidade 4. Elaboração, monitoramento e avaliação de projetos
Módulo 6 – Metodologia de Projetos de Pesquisa e de Intervenção – 30h
Discutir sobre metodologias de projetos de pesquisa e de intervenção, visando a construção de seus projetos de pesquisa sobre temas tratados neste curso, relacionados às categorias: gênero, raça e políticas públicas.
Unidade 1. Métodos Qualitativos: A produção do conhecimento e as políticas públicas
Unidade 2. Métodos Quantitativos: subsídios para a ação
Processo de elaboração do TCC – 90 horas
São conteúdos que se destinam a influenciar a construção de novas práticas sociais, incentivando gestores/as públicos (dentre eles, os que atuam no campo da educação) na elaboração de propostas educacionais que se propõem, conforme Louro (2000, p. 20), a fazer ruptura “com as relações hierárquicas das salas de aula tradicionais, com o monopólio dos experts, bem como a dicotomia entre o objetivo e o subjetivo, a razão e a emoção”. Ademais, o currículo é, ainda, uma questão de poder, pois como adverte Silva (2010a, p. 16): “Selecionar é uma operação de poder. Privilegiar um tipo de conhecimento é uma operação de poder”.
No tratamento de temas da área da diversidade na educação a distância, também, traz à tona questões que tem sido, historicamente, objeto de disputas políticas, mostrando-se como possibilidade para sujeitos conversarem sobre estas experiências; tornando-se um instrumento possível de superação da ausência de legitimidade das identidades marcadas como fora do padrão de normalidade, desenhado sob a égide da cultura ocidental européia.
Dessa forma, queremos, com estas sinalizações, pensar mais sobre as contribuições da educação a distância na contemporaneidade, sobre suas expectativas sociais e de como esta modalidade pode disseminar os temas da diversidade. Será, pois, que podemos falar aqui de uma “educação a distância das emergências”, aproximando-nos da sociologia das emergências discutida por Santos (2006, p. 798) como algo que “expande o domínio das experiências possíveis”? Estamos olhando para este contexto da EaD como pista ou rastro que revela dilemas do presente e amplia possibilidades de diálogo sobre diversidade. Estes, e não outros elementos da diversidade em tratamento entram no bojo da problemática do poder, das seleções e dos selecionados. Como experiências possíveis, o fato de que alguns elementos sofreram influências outras, não estabeleceriam limites nas vivências e aprendizagens alcançáveis? Quem decide o quê?
À GUISA DE REFLEXÕES....
Estamos discutindo um processo de construção de experiência com aprendizagens virtuais, a partir de encontros on-line[5] com possibilidades ou não de momentos criativos e coletivos de troca, socialização e construção de novas idéias e saberes a serem estudados e aprofundados sobre a diversidade. Isto nos faz refletir sobre algumas questões:
Inicialmente, apontamos um elemento que atravessa a discussão, ainda que não seja foco deste estudo. É possível pensar sobre como as possibilidades de formação on-line são construídas sob a perspectiva de diferentes concepções de aprendizagem: objetivista/empirista, subjetivista, cognitivista e sócio-histórico, as quais têm como questão central, respectivamente, mudança de comportamento resultante de estímulos externos; centralidade do aluno no processo educativo; trocas recíprocas entre os sujeitos e os objetos e a relação dialética teoria e empiria. (DIAS, LEITE, 2010). Nestas questões, não devem ser desprezada uma modalidade de aprendizagem que pode ser chamada questionadora; apreender através de questionamentos-respostas sistemáticos, cumulativos e construtivos simultaneamente.
Sobre isso, nosso estudo chama atenção que, embora o sistema Moodle tenha sido desenvolvido para propiciar uma aprendizagem construcionista e colaborativa, apenas o uso da EaD e de seus recursos tecnológicos não se traduzem na realização desse tipo de aprendizagem. As atividades não são construídas em interações homogêneas, podendo ocorrer processos diversos de reconhecimento ou não de identidades diferentes. É preciso mais reflexão sobre o que os sujeitos fazem com os conteúdos do curso GPP-GeR na sala de aula virtual ou fora da mesma.
A análise de como o espaço virtual vem impulsionando processos de formação na área da diversidade, no âmbito do Sistema Universidade Aberta do Brasil e das contribuições que a educação a distância pode oferecer para o desenvolvimento destas políticas de conhecimento relaciona-se às escolhas políticas na seleção de um caminho (EaD) que possa construir processos de interação e aprendizagens, a partir de duas dimensões interligadas e que podem ser propiciadas pela presença das tecnologias da informação e comunicação, sem esquecer seus limites nas práticas educativas virtuais! São elas:
A dimensão de distância, por seu princípio de flexibilização temporal, espacial e pedagógico, tem alcance rápido e cumulativo de encontros, trocas, convivência a qualquer momento e de qualquer lugar, desde que haja conexão eletrônica. E, a dimensão aberta para ampliar a acessibilidade dos sujeitos (homens, mulheres, jovens, idosos, negros, indígenas, homossexuais, portadores de necessidades especiais...) à cultura da universidade ou democratização dos conhecimentos que são produzidos neste espaço. São dimensões que podem ajudar na intervenção de situações que merecem “soluções rápidas”.
E, assim, pensar esse contexto como a “educação a distância das emergências” suscita-nos considerar as diversas possibilidades semânticas que o termo “emergência” carrega. Por isso, pontuamos que a formação de sujeitos, na EaD, para o tratamento de temáticas da área da diversidade na contemporaneidade pode ser percebida como uma situação:
a) Grave, comparada mesmo ao atendimento emergencial num hospital;
b) Que está aparecendo, surgindo na formação on-line;
c) Que está recente, sendo formada ou em vias de desenvolvimento, na realidade estudada;
d) Que está ajudando na busca de soluções e ações imediatas para o trabalho educativo da problemática da diversidade na sociedade...
e) Que intenciona incorporar temas da diversidade nas práticas sociais;
f) Não-linear que sugere perspectivas de práticas educativas com autonomia para o consumo e produção de tecnologias da informação e comunicação como ferramentas que colaboram na construção colaborativa do conhecimento.
E, para não concluir, estamos inquietos/as por tentar compreender sistemas complexos de multiplicidade de interações! Lembrando dos sujeitos envolvidos e as relações dialéticas de saber-poder como produzir-disseminar-consumir esses e não outros conhecimentos, focalizando nessas e não em outras diversidades.
REFERÊNCIAS
ABOUD, Amanda F. Fundamentos da Educação a Distância: a teoria por trás do sucesso. SERRA, Antonio R. C.; SILVA, João A. R. (Orgs.). Por uma educação sem distância: recotes da realidade brasileira. São Luís: EDUEMA, 2008.
ALONSO, Kátia Morosov. Algumas considerações sobre a educação à distância, aprendizagem e a gestão de sistemas não-presenciais de ensino. In: Educação à Distância: ressignificando práticas. Brasília: Liber Livro Editora, 2005.
BRASIL. Ministério da Educação. Manual da Rede de Educação para a Diversidade. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=12322&Itemid=561. Acesso em: 2 mar. 2012
BRASIL. Ministério da Educação. Edital nº 28 SECAD/MEC. Brasília, DF, 23 de novembro de 2009. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=12322&Itemid=561. Acesso em: 2 mar. 2012a
CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede. São Paulo: Paz e Terra, 2002, v. 1.
DIAS, Rosilânia A.; LEITE, Lígia S. Educação a Distância: da legislação ao pedagógico, Petrópolis, RJ: Vozes, 2010.
HEILBORN, Maria Luiza.et al (Org.). Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça – GPP-GeR: Módulo 1. Rio de Janeiro: CEPESC; Brasília: SPM/MEC, 2010.
LOURO, Guacira L. Currículo, Gênero e Sexualidade. Porto: Porto Editora, 2000.
MOORE, Michael G.; KEARSLEY, Greg. Educação a distância: uma visão integrada. São Paulo: Cengage Learning, 2010.
SANTOS, Boaventura de S. Para uma sociologia das ausências e uma sociologia das emergências. In: ___________. (Org.). Conhecimento prudente para uma vida decente: um discurso sobre as Ciências revisitado. 2 ed. São Paulo: Cortez, 2006.
SILVA, Marco. Desenho didático: contribuições para a pesquisa sobre formação de professores para docência online. In: SILVA, Marco; PESCE, Lucila; ZUIN, Antonio. (Orgs.). Educação online: cenário, formação e questões didático-metodológicos. Rio de Janeiro: Wak Ed., 2010
SILVA, Robson Santos da. Moodle para autores e tutores. 2 ed. São Paulo: Novatec, 2011.
SILVA, Sirlene Mota P. da; NUNES, Antonio de Assis C. Curso de Gestão de Políticas Públicas com Foco na Temática de Gênero e Raça. São Luis: UFMA, 2009. (Mimeo)
SILVA, Tomaz Tadeu da. Documentos de identidade: uma introdução às teorias do currículo. Belo Horizonte: Autentica, 2010a.
TEIXEIRA, Cenidalva. Convênios e Projetos. In: Interativa: Revista do NEaD, Ed. nº 1, ano 1, dez. 2008.
[1] “A interação é uma ação recíproca entre dois ou mais atores em que ocorre intersubjetividade, isto é encontro de sujeitos, que pode ser direta ou indireta (mediatizada). Interatividade pode significar a potencialidade técnica oferecida por determinado meio (CD-ROMs de consulta, hipertextos em geral) ou a atividade humana do usuário de agir sobre a máquina e de receber, em troca, uma “retroação” da máquina sobre ele” (DIAS, LEITE, 2010, p. 38). O fator crucial é a troca que substancia estas realidades
[2] O Sistema UAB foi instituído pelo Decreto 5.800, de 8 de junho de 2006, para "o desenvolvimento da modalidade de educação a distância, com a finalidade de expandir e interiorizar a oferta de cursos e programas de educação superior no País". Mais informações no site: http://uab.capes.gov.br/.
[3] Os cursos da Rede de Educação para a Diversidade tiveram início na UFMA, em 2009, a partir de processos seletivos dispostos nos seguintes Editais: Edital da Pró-Reitoria de Extensão – PROEX nº 002/2009; 008/2011, Edital da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (PPPG) nº 11/2011; 12/2011 e 32/2011.
[4] Trata-se de um Sistema de Gerenciamento de Aprendizagem (Course Management System – CMS ou Learning Management System – LMS). A plataforma foi desenvolvida em código aberto, livre e gratuito para aprendizagem a distância (virtual ou online), atendendo a filosofia do software livre. A palavra Moodle é um acronismo para Modular Object-Oriented Dynamic Learning Environment (Ambiente de Aprendizagem Dinâmico Orientado a Objetos).
[5] Para Kátia Alonso (2005), o encontro é um elemento significativo para organização de sistemas de ensino, pois é catalisador dos processos da aprendizagem. Ele é necessário para que a aprendizagem ocorra efetivamente. Não existe aprendizagem totalmente à distância, todo e qualquer processo nesse sentido deve propiciar momentos de troca, encontros que possibilitem convivência.